terça-feira, 29 de março de 2011

Brincar na educação infantil.

Simara Descovi Josefiaki

Toda criança pode crescer e se desenvolver melhor com ajuda e estimulação de qualidade. A brincadeira é uma forma de estimulação que resgata, promove e preserva a cultura, as tradições e experiências da criança.

Esse é o tema desse artigo. A infância é um tempo mágico que passa num piscar de olhos e deve ser aproveitada ao máximo, meu objetivo é entender melhor como podemos ajudar nossas crianças nessa fase, como estimular o desenvolvimento integral e o crescimento saudável e feliz. Toda brincadeira é um método de ensino por mais simples que possa parecer e gera resultados muito satisfatórios para quem dela aproveita. O melhor da infância é se aventurar.

O mundo infantil é repleto de fantasias e de sonhos. A brincadeira proporciona a criança conhecer o meio onde vive e a se relacionar com ele. De 0 á 3 anos as crianças se desenvolvem muito rapidamente. O brincar tem como característica fundamental a livre escolha da criança, ela decide quando, como, com o que e com quem quer brincar gerando autonomia. Cada um de nós tem boas recordações dos tempos de criança quando brincar era a tarefa mais importante, os amigos, a escola, os esconderijos. Algumas crianças são mais sofridas, tem que trabalhar para ajudar a família, tem menos recursos, ás vezes não podem comprar um brinquedo, outras dispõe de mais recursos.

Meu objetivo com este artigo é entender melhor o mundo infantil com enfoque nas brincadeiras. O que faz uma criança se sentir feliz, o que lhe dá prazer. A brincadeira faz parte da infância e traz boas lembranças, mas isso por si só não basta. Um ambiente saudável ,o amor, o carinho, o afeto, compreensão também contribuem para o desenvolvimento das crianças.

Para aprender um pouco mais sobre esse tema observei a turma do pré b na minha escola parceira e constatei que a professora utiliza em suas aulas várias brincadeiras e jogos a fim de que as crianças adquiram conhecimento de forma lúdica. Notei que se sentem felizes na sala de aula e tem prazer em realizar as atividades. Se as aulas são divertidas e bem programadas as crianças brincam enquanto aprendem e isso gera prazer. Por isso a vontade de ir para a escola todos os dias, o tempo é preenchido com atividades dirigidas e passa muito rápido.

O pré b come a merenda antes das outras turmas e na hora do recreio brinca na sala de aula. Não reclamam disso e nem pedem para sair pois eles tem vários brinquedos (bonecas, carrinhos, telefones, bichinhos) e muitos jogos( quebra-cabeça, joguinhos de montagem e encaixe, bingo, dominó, vareta, massa de modelar). Todos os dias das 16 h ás 17 horas vão para o ginásio de esportes para brincadeiras dirigidas, cada dia a professora ensina algo diferente. O lúdico traz muitas contribuições para o desenvolvimento das crianças.

Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento das capacidades de atenção, imitação, memória, imaginação, identidade e autonomia das crianças. Através da brincadeira aprendem regras de convivência, papéis sociais e limites. A fantasia e a imaginação são elementos fundamentais para que a criança conheça a si mesma e ao outro aprendendo sobre a relação entre as pessoas Um pedaço de pau pode ser uma bengala ou uma boneca que se embala. Os adultos fazem o mesmo, interpretam fatos ou objetos de diferentes formas (Revista Nova Escola, 2010).

Não existe brinquedo sem regras de comportamento, o desenvolvimento do jogar com regras começa no fim da idade pré escolar e se desenvolve durante a idade escolar. A criança em idade pré escolar envolve-se num mundo ilusório e imaginário, a imaginação preenche necessidades da criança. Quando a professora conta uma história o aluno se imagina como personagem e viaja nos contos participando dos acontecimentos relatados. Quando brincam aprendem que não estão sozinhas. As crianças se tornam responsáveis por seus brinquedos e pelo espaço, cuidando, arrumando, organizando e guardando os brinquedos após o término da brincadeira. Muitas vezes inventam jogos fazendo suas próprias regras, a brincadeira é uma atividade lúdica e torna o espaço em que acontece não apenas um lugar de competição mas também de partilha e cooperação.

Em minha escola parceira várias brincadeiras fazem parte do cotidiano das crianças. Na hora do recreio os meninos e as meninas brincam separados, eles com bola e bolita, elas de pega-pega, também gostam de se reunir em grupinhos para conversar. Na pracinha tem balanço , escorregador e gangorra, . Os alunos do pré b gostam de ir na pracinha na hora da educação física. Por várias vezes participei da educação física das turmas, quando faço minhas visitas á escola procuro acompanhar as professoras para auxiliar em alguma coisa. Sempre tem brincadeiras dirigidas, quando a professora libera para cada um brincar livre os meninos jogam futebol e as meninas brincam de roda, de vez em quando acontece um jogo misto mas as meninas reclamam que se machucam com os chutes e boladas.

Nos tempos atuais as brincadeiras são compradas prontas, ou ainda, estão ligados a jogos violentos baseados nos filmes e personagens da televisão. Segundo Penteado "A televisão constitui-se em um desafio para a escola" (Revista do Professor, 2006, pág. 5-8). Não podemos negar que existem muitos canais educativos para crianças com conteúdos lúdicos e informativos, os pais devem tomar um cuidado com os programas que seus filhos assistem pois ela pode ajudar no processo de aprendizagem.

Mas nem todas as crianças tem tempo para brincar. O documentário Crianças Invisíveis aborda o tema das brincadeiras de uma maneira um pouco diferente, nos depara com realidades de crianças sofridas e maltratadas, sem famílias e abandonadas ou com uma família desestruturada. O documentário tem esse nome porque as crianças não tinham quem olhasse por elas., uma realidade que choca, o descaso. Muitas delas sonhavam em ir para a escola e ter uma vida diferente mas suas infâncias foram mutiladas. No primeiro episódio do documentário é relatada uma situação de guerra em que as crianças trocaram seus brinquedos por armas, exercendo funções de adultos e perdendo sua infância á mercê da violência. Os brinquedos para elas era algo que deveria ficar guardado como um tesouro, algo muito distante, enquanto as outras brincavam eles matavam. Diante das diferentes realidades é que o professor deve ser investigador e comprometido com sua carreira, desempenhar seu papel levando em conta o interesse dos alunos.

De acordo com o texto Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil "brincar funciona como um cenário no qual as crianças tornam-se capazes não só de imitar a vida como também de transformá-la, através da brincadeira podem experimentar outras formas de ser e pensar"( Secretaria da Educação Fundamental, 1998, pag. 22).

Não importa se a criança tem um brinquedo como boneca, bicicleta, vídeo-game, bola, ou brinca usando a imaginação com cantigas de roda, fazendo sombra na parede, nesse momento ela esquece do sofrimento e é feliz.

O livro “Com Olhos de Criança” de Francesco Tonucci traz algumas lâminas relacionadas ao mundo infantil, as que me chamaram a atenção foram a 31 onde a mãe está contando histórias para seu filho e ele viajando na imaginação se colocando como parte da história. Como havia comentado anteriormente sobre a influência da televisão na vida das crianças a imagem 30 é a da criança assistindo ao noticiário vendo mortes e lendo jornais com notícias ruins e catástrofes, violência, na hora de dormir a mãe ameaça que o lobo mau vem pegar, ele já tinha visto violência e tragédia o dia inteiro praticada por seres humanos que não se assustou com o lobo mau, para ele foi o fim de um mito, o lobo pode ser mau mas o ser humano é pior. A lâmina 36 mostra uma criança vista de cima pelos adultos como um ser inferior, como se elas não tivessem importância ou significado, por isso elas precisam de pessoas que as vejam com outros olhos, como iguais, prestar atenção nelas e conversar, dar carinho, brincar, ser feliz. É dessa maneira que conseguiremos marcar suas vidas, através de bons atos.

A infância passa muito rápido e os melhores momentos devem ser vividos unicamente e lembrados. As crianças devem receber cuidado e atenção. Através das brincadeiras se inserem na sociedade e aprendem a viver em grupo,além de desenvolver a linguagem, o psicomotor e o cognitivo. Através da brincadeira se tornam independentes e realizam vários movimentos. Outras atividades podem ser desenvolvidas dentro das brincadeiras como teatro, pintura, não apenas jogos. É muito importante ter um espaço e liberdade para brincar, explorar o ambiente, medir forças e limites. Tenho boas lembranças de meus tempos de criança e gostaria que todos tivessem isso também. Não há como resistir a um rosto inocente precisando de atenção, vamos tirar um tempo e brincar com nossas crianças, elas irão se lembrar. Enfim, brincar não só na educação infantil mas em toda vida e em toda fase faz bem.

É tempo de abraçá-los bem forte e contar-lhes a mais bela das histórias, de levá-los a balançar na pracinha, sentar no chão e brincar com eles. Haverá um tempo em que já não se ouvirão portas batendo, nem haverão brinquedos espalhados no chão, ou brigas de infância, ou marcas de dedos nas paredes, então olharemos para trás e veremos que esses anos não foram desperdiçados. Nossas crianças não podem esperar. (YOUNG, 2000).

REFERÊNCIAS

FRANCESCO, Tonucci, Com olhos de criança, ed. Artmed.

LUNCK. Lee S Scottk, et al. Unicef. Documentário Crianças Invisíveis. Unicef, 2005.

MEC. Secretaria a Educação Fundamental, Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Vol. 2. Brasília: Mec/ Sef; 1998, p.22 e 45. Disponível em http: // portal. mec. gov. br/ seb /arquivos/ pdf/ volume 2. pdf. Acesso em 02 de dezembro de 2009, 20h45 min.

MOÇO, Andersom. Quanta coisa eles aprendem: Revista Nova Escola, nº231, p42-50, abril/2010.

REVISTA do profo Aleessor, Portgre, 22 (87) p.5-8, jul./set. 2006.

RIO GRANDE DO SUL. Secretaria Estadual da Saúde. Primeira Infância Melhor. Guia da Família-Porto Alegre: Relâmpago, 2007.

VYGOTSKI, L.S. O papel do brinquedo no desenvolvimento . in.: A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991, p. 105-109.

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